O Museu Imperial, em Petrópolis, RJ, estendeu a temporada da mostra O Olhar Germânico na Gênese do Brasil até 29 de outubro de 2022.
A data inicial de encerramento era 7 de agosto, mas a exposição tem sido determinante para o aumento da visitação, depois do período em que o museu esteve fechado, em razão das chuvas que atingiram a cidade de Petrópolis, em fevereiro e março deste ano.
Os curadores Maurício Vicente Ferreira Júnior, diretor do Museu Imperial, e o historiador de arte Rafael Cardoso selecionaram 200 obras, dentro das milhares da Coleção Geyer, doada a este museu, para reconstituir parte da contribuição germânica [alemães, austríacos e suíços] à formação cultural do Brasil do século XIX, completada por peças do acervo do Museu Imperial.
O Olhar Germânico na Gênese do Brasil, sob patrocínio da Unipar, através da Lei de Incentivo à Cultura, reúne pinturas, gravuras, desenhos, mapas, livros de viagem e objetos, divididos em quatro núcleos:
Rio de Janeiro à vista – pinturas de paisagem com temática do RJ;
Retratos da vida da corte – retratos de notáveis do Império;
Olhar a gente brasileira – obras com figuras anônimas, a maioria aquarelas e desenhos, e Imaginar o Brasil – livros e estampas litográficas relacionadas a vistas e viagens pelo país.
Rio de Janeiro à vista – Com a abertura dos portos em 1808, passaram a circular pelo mundo marcos paisagísticos do Rio de Janeiro, em pinturas e litografias. Esta internacionalização propiciou trânsito comercial, diplomático, científico e a vinda de artistas, atraídos pela natureza deslumbrante do novo país. Muitos vinham de países de língua alemã. Neste núcleo está a contribuição destes artistas à formação de uma iconografia da cidade. A onipresença da escravidão não escapou à atenção dos pintores.
Retratos da vida da corte – A concessão de títulos nobiliárquicos e honrarias servia para confirmar o status social e econômico. Os contemplados iam da família imperial a súditos anônimos e duques, marqueses, condes, viscondes, barões, comendadores e dignatário de ordens imperiais. Neste segmento estão retratos pintados de notáveis. Eles exerceram a função de dar visibilidade à posição social do retratado. O mercado local se tornou atraente para artistas estrangeiros especializados em retratos. E eles vieram para o Brasil.
Olhar a gente brasileira – Os artistas do século XIX registraram o cotidiano de uma sociedade ainda afundada nas relações perversas com a escravidão. A massa escravizada, presente na paisagem humana, está retratada nos trabalhos deste núcleo. A estranheza do cenário aos olhos dos artistas estrangeiros os moveu a chamar a atenção do mundo para a situação dos escravos, que a sociedade fingia ignorar.
Imaginar o Brasil – A circulação internacional de livros, estampas, panoramas e álbuns de vistas deste segmento evidenciou a contraposição entre uma Europa civilizada e o suposto exotismo do resto do mundo. O imaginário que se formou da natureza tropical, selvagem e indomável, passou a confrontar uma ideia de domesticidade e civilidade como marcas de pertencimento cultural. O olhar estrangeiro oferecia uma lente para os brasileiros que quisessem enxergar a imensidão do Brasil.
Homenagem a Petrópolis – Completam a mostra objetos produzidos por artistas germânicos radicados em Petrópolis, como as esculturas de madeira de Carlos Spangenberg – suas bengalas eram apreciadas por D. Pedro II, e copos e pesos de papel de vidro e cristal, lapidados por Henrique e Guilherme Sieber, os souvenirs mais procurados pelos que visitavam a cidade.
Peças destes artistas e as pinturas de Karl Ernest Papf e de Friedrich Hagedorn, pertencentes à coleção do Museu Imperial, estão lado a lado com itens da Coleção Geyer, como paisagens da cidade serrana e seus arredores. É uma homenagem da curadoria a Petrópolis, tão afetada pelas chuvas de verão deste ano.
Coleção Geyer – Em 1999, o casal Maria Cecília [1922–2014] e Paulo Geyer [1921–2004] doou ao Museu Imperial, em Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, sua coleção de arte e a casa que a abriga, no bairro carioca do Cosme Velho. Em 2014, a Coleção Geyer foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), tornando-se Patrimônio Cultural do Brasil. O conjunto era considerado a maior brasiliana em mãos particulares do país.